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Pizza, rock e Bruce Lee: criar "Mortal Kombat" foi um sonho de adolescente

Claudio Prandoni

Do UOL, em São Paulo

18/10/2017 04h00

Hoje em dia cada novo episódio da série "Mortal Kombat" é uma grande produção que custa alguns anos e milhões de dólares para ser feito. É uma realidade bem diferente dos primórdios da série há 25 anos, quando uma equipe minúscula teve alguns meses para dar vida ao game de luta mais controverso dos anos 90.

Mas se engana quem pensa que foram tempos difíceis: a criação do primeiro "MK" foi um verdadeiro sonho de adolescente, como contou em entrevista exclusiva ao UOL Jogos um dos pais da franquia, Ed Boon.

"O primeiro 'Mortal Kombat' foi feito por apenas quatro pessoas. Todo mundo com seus 20 e poucos anos. Imagine você com essa idade, com seus amigos e ainda sendo pago para criar o game que você quisesse!", explicou ele empolgado ao relembrar o passado.

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Imagine um quarto escuro cheio de computadores e videogames, filmes de ação de Bruce Lee e Van Damme, caixas de pizza e muito rock'n roll de trilha sonora. Parece a descrição do quarto da maioria dos adolescentes do final do século passado, mas também é um retrato apurado da Midway em 1992, estúdio em que Boon criou o primeiro "MK" ao lado de John Tobias, Dan Forden e John Vogel.

A equipe de "Mortal Kombat" tinha quatro integrantes no começo: o programador John Tobias, os artistas Ed Boon e John Vogel, e o designer de som Dan Forden (ele aparece eventualmente no jogo como um "easter egg"). Inicialmente, o plano era de um jogo de luta estrelado por Jean-Claude Van Damme, o mais famoso ator de ação da época. Isso não aconteceu, mas muito do filme "O Grande Dragão Branco" está no game, como a história do torneio e o "golpe baixo" de Johnny Cage - Montagem sobre imagens de reprodução - Montagem sobre imagens de reprodução
Equipe de desenvolvimento do primeiro "MK" tinha apenas quatro pessoas - ao centro, vestido de Raiden, o ator Carlos Pesina
Imagem: Montagem sobre imagens de reprodução

"Os outros caras gostavam de deixar um filme rolando na TV enquanto trabalhavam, tipo 'Operação Dragão', 'Exterminador do Futuro' ou algo do tipo. E esse lance dos filmes nos inspirou bastante!"

"O Kano, por exemplo, a idéia da placa metálica no rosto e o olho vermelho vieram enquanto a gente assistia a 'Exterminador do Futuro'. O Arnold Schwarzenegger começa a levar uns tiros no rosto e aí aparece a placa por baixo da pele e a gente comentou 'Wow, isso é muito legal, vamos colocar isso no jogo'".

"Tem também 'Os Aventureiros do Bairro Proibido', aquele cara da eletricidade que inspirou bastante o Raiden. O Jean Claude Van Damme inspirou o Johnny Cage".

"A gente buscou muitas ideias, de filmes, livros e quadrinhos e o processo de criação era basicamente 'Ei, não seria legal isso aqui?' ou 'Lembra desse filme? Vamos fazer algo assim!'. Não tinha um processo formal, qualquer ideia que a gente tivesse dava para tentar.

"Éramos só nós 4, a gente podia fazer o que quiser e cada um tinha sua especialidade: arte, programação, som e design. A gente tinha um pouco de pressa porque a empresa pediu pra fazer o jogo todo em 8 meses então foi tudo meio apressado, trabalhamos muito até tarde, a gente pedia pizza pra comer por lá".

"Mas foi muito divertido! Quantas pessoas têm a chance de criar o jogo dos sonhos dela, não é?".

'Kontos' da 'kripta'

Ainda sobre o primeiro jogo da série, Boon relembra casos curiosos, como a polêmica envolvendo a ausência de sangue e fatalities violentos no cartucho de Super Nintendo.

"Foi terrível! E a gente sabia que isso ia prejudicar as vendas. A versão do Mega Drive tinha controles melhores e o sangue. A do Super Nintendo tinha gráficos melhores, mas não tinha o sangue".

É do primeiro game também o segredo favorito de Ed em toda a série (e olha que não faltam truques e mistérios na franquia!).

"Reptile é o meu segredo favorito. Na época do primeiro 'MK' não existia internet para as pessoas dividirem segredos e tal, então quando colocamos ele no jogo pensamos o seguinte: 'ele tem que ser muito raro, mas pessoas o bastante tem que ver ele para criar o rumor'".

Ed Boon - BGS 2017 - Ruan Segretti/Warner - Ruan Segretti/Warner
Ed Boon veio à BGS 2017 falar sobre "Injustice 2" e os 25 anos de "Mortal Kombat"
Imagem: Ruan Segretti/Warner

"Virou lenda urbana! Tinha pessoas que tiravam fotos da tela para provar que ele era real".

Ed falou também um pouco sobre os gráficos digitalizados, que na época garantiram um visual bem realista ao game de luta e eventualmente foram substituídos por gráficos tridimensionais.

"Acho que 'charme' é uma palavra boa para definir essa tecnologia hoje em dia. Seria até nostálgico a gente fazer algo com esse estilo, como uma referência ao passado, mas hoje em dia os gráficos tridimensionais estão muito mais avançados que os digitalizados".

"Mas na época aquilo era tecnologia de ponta! Quando você olhava pra 'Mortal Kombat' você não conseguia parar de olhar, ninguém tinha visto nada do tipo".

"Acho até que isso foi parte do sucesso, especialmente quando você via as maluquices que fizemos naquele game".

O futuro do 'kombate'

Depois de olhar bastante para os anos que já se passaram, perguntei a Ed sobre os jogos mais recentes e também os próximos 25 anos de "Mortal Kombat". Será que vem aí um "Mortal Kombat 11"?

"A gente sempre pensa em um jogo por vez. Se a gente fizer um novo 'Mortal Kombat' temos algumas ideias que gostaríamos de explorar, mas não consigo imaginar como será daqui 25 anos", disse ele, dando grande ênfase ao "Se".

"Eu provavelmente não vou estar fazendo jogos daqui 25 anos!", comentou em meio a risadas.

Bem provável que até lá Ed Boon já esteja desfrutando de uma tranquila e merecida aposentadoria, mas com certeza até lá dá para fazer mais alguns episódios de "Mortal Kombat" e preparar o caminho para as novas gerações de 'kriadores' e 'kombatentes'.

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