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Com 'vácuo' da Valve no Brasil, "Rainbow Six" conquista 600 mil jogadores

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Imagem: Reprodução

Barbara Gutierrez

Do UOL, em São Paulo

30/01/2017 14h26

“Tom Clancy's Rainbow Six Siege” foi lançado em dezembro de 2015 pela Ubisoft mirando nos eSports. O jogo de tiro em primeira pessoa chegou a 600 mil jogadores somente no Brasil, disputando com gigantes como "Counter-Strike: Global Offensive", um dos shooters mais populares dos dias atuais.

"R6S" oferece modo de espectador próprio para transmissões de campeonatos e constantes atualizações, detalhes certeiros que resultaram em uma crescente de jogadores mesmo após um ano desde seu lançamento.

Considerando como a maioria dos AAA possuem uma queda de jogadores poucos meses após suas estreias, o game apresenta dados notáveis: em média, 3,9 milhões de usuários jogam “Rainbow Six Siege” ao menos uma vez por semana e 1,3 milhão joga todos os dias. Somente no Brasil, são 176 mil pessoas jogando diariamente.

“No primeiro mês, tínhamos 5 milhões de jogadores. Um ano após o lançamento real, temos mais que o dobro, cerca de 13 milhões de pessoas jogando em todo o mundo”, diz Bertrand Chaverot, diretor da América Latina na Ubisoft ao UOL Jogos.

Para comparação, "CS:GO" chegou a mais de 10,8 milhões de jogadores únicos em dezembro de 2016, mas é necessário levar em conta que enquanto "Counter-Strike" é apenas jogado no PC, "R6S" está presente também no PlayStation 4 e Xbox One.

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Uma das grandes diferenças entre as duas publishers é a forma como elas lidam com o investimento em seu cenário competitivo. Enquanto a Valve simplesmente não opera no Brasil, a Ubisoft tem sua própria equipe nacional focada em eSports.

Somente em 2016, os campeonatos brasileiros do jogo distribuíram mais de R$ 400 mil em premiações. Por conta desta aposta, diversos jogadores de outros games de tiro migraram para o "Rainbow Six", carentes de um cenário mais ativo.

“Eu joguei ‘Battlefield’ de 2006 até 2015 e durante todo esse tempo a empresa nunca deu apoio suficiente para o competitivo”, diz Leo “Zigueira” Duarte, youtuber e pro player. “A EA era muito atenciosa na parte de entretenimento, mas nos eSports a gente tentava tirar leite de pedra. Não havia incentivo, era muito difícil receber salário, não existiam muitos campeonatos presenciais.”

“O ‘Rainbow Six Siege’ veio com uma proposta que poucos jogos tinham, que era se focar no competitivo. O único jogo que tinha isso era o ‘CS’ ou os MOBAs. O que a Ubisoft fez foi focar no competitivo, por isso meu time saiu do ‘BF’ e fomos para o ‘R6S’ e estamos aí até hoje”, finalizou Zigueira.

É necessário considerar também que o game é muito mais caro do que o famoso “Counter-Strike: Global Offensive”: enquanto o jogo de tiro em primeira pessoa da Valve custa R$ 25 no Steam, o game da Ubisoft para PC está disponível na plataforma por R$ 100. A mídia física para consoles naturalmente tem um preço mais salgado, custando R$ 149.

“Hoje, ‘Rainbow Six’ ainda é caro. Muitos jovens não têm dinheiro ou um PC que rode bem o game e eles assistem às partidas sem jogar. Os eSports são a melhor vitrine para isso, são pessoas talentosas que jogam e se divertem. Por isso os números da audiência online são impressionantes”, comenta Bertrand.

Equipe de PC de Rainbow Six Siege da Santos Dexterity, que vai para o mundial no Canadá - Reprodução - Reprodução
Equipe de PC de Rainbow Six Siege da Santos Dexterity, que vai para o mundial no Canadá
Imagem: Reprodução

O Six Invitational é o torneio mundial do game que ocorre de 3 a 5 de fevereiro, em Montreal, no Canadá. Além de oferecer US$ 200 mil em premiação, a grande jogada é justamente ter representantes nacionais no campeonato - papel cumprido pela Santos Dexterity tanto na categoria PC quanto Xbox One.

“Queremos ver quantas pessoas vão assistir à final mundial com os brasileiros representando. Aqui, precisamos de heróis, é como o Guga ganhando e o tênis crescendo muito no Brasil”, relembra Bertrand.

Visando o apoio no jogo, diversos times enxergaram em “Rainbow Six Siege” uma oportunidade real de crescimento. "Antes de investir em qualquer jogo, nós fazemos uma rígida pesquisa de cenário pra saber se vamos ter retorno”, diz Roberto Buzzoleti, diretor de eSports da Santos Dexterity. A organização é reconhecida no país por ser uma das melhores em FPS, mas não foi a única que reconheceu os esforços da publisher.

Zigueira joga na equipe Black Dragons, uma das principais do jogo de tiro. O time foi fundado pela jogadora Nicolle ''Cherrygumms'' Merhy ao lado de seu namorado, e hoje é um dos grandes nomes dos eSports, até mesmo patrocinado pela AOC, grande empresa que investe no cenário competitivo.

Cherrygumms, dona da equipe Black Dragons, e Zigueira, jogador do time de "Rainbow Six Siege" - Reprodução - Reprodução
Cherrygumms, dona da equipe Black Dragons, e Zigueira, jogador do time de "Rainbow Six Siege"
Imagem: Reprodução

“Lançamos a Black Dragons em março do ano passado no ‘Rainbow Six Siege’ comigo jogando”, diz Cherrygumms. “Nunca tivemos ‘League of Legends’ representando nossa camisa, um dia teremos, mas hoje somos um dos principais times do Brasil porque investimos certo. ‘R6’ é um jogo em que a publisher ajuda e muito o competitivo, e não existe outra chave mestra para conseguir sucesso do que incentivo.”

A jogadora ainda comenta sobre o auxílio que a empresa ofereceu para que ela conseguisse superar problemas como o preconceito e o machismo: “Eu, como embaixadora das mulheres no competitivo, tive um apoio enorme da comunidade e da Ubisoft, que sempre estiveram me apoiando, mesmo quando pensei em desistir.”

E o jogo ainda promete muito mais. Aproveitando a grande audiência online - 10 milhões de visualizações nas transmissões e vídeos sob demanda dos campeonatos nacionais Elite Six -, a Ubisoft Brasil ainda pretende levar “Rainbow Six Siege” para as grandes massas.

“Ainda estamos na fase inicial, na infância do eSport brasileiro. Mas já existem mídias querendo transmitir isso como as redes de televisão, por exemplo”, diz Bertrand. “Queremos trabalhar com meios de comunicação maiores para transmitir as finais de nossos torneios e também contar com marcas grandes que atuam fora dos esportes eletrônicos.”

“Isso é a evolução normal para qualquer eSport. Não existem atividades que engajam tanto os jovens quanto os videogames”, finaliza o diretor regional da Ubisoft.