Mulheres contam como é criar games em meio dominado por homens
"Muita gente ainda tem essa mentalidade de que 'rosa é de menina, azul é de menino'. E videogame é coisa de menino para essas pessoas".
A fala da artista conceitual Marcela Versiani, da Black River Studios, reflete a realidade do mercado brasileiro de games. Segundo o 1º Censo da Indústria Brasileira de Jogos Digitais, publicado pelo BNDES em 2014, a cada 20 pessoas que trabalham com a produção de jogos no Brasil, apenas 3 são mulheres.
Marcela ainda relata como, em um de seus trabalhos anteriores, chegou a receber menos que homens que ocupavam cargos equivalentes ao dela. "Eu precisava provar meu valor muito mais do que um cara que também estava lá. E quanto eu fui promovida, tive que ouvir muita fofoca questionando o que eu fiz para ser promovida - inclusive de outras mulheres", revela.
Atualmente na Joymasher, Thais Weiller ecoa o discurso: "Quando vemos uma garota na nossa área, já sabemos de cara que ela tá ali porque realmente quer. E ela moveria o mundo inteiro para conseguir o que ela quer".
Minoria
Na catarinense Hoplon, o time de 35 pessoas tem apenas 2 mulheres. Na Aquiris, a proporção é de 5 mulheres em 50 funcionários.
Em todos os estúdios procurados por UOL Jogos, a maior parte dos cargos ocupados por mulheres são de cunho artístico, como designer 3D ou artista conceitual.
"Homens normalmente reconhecem nas mulheres um tino para cor e sensibilidade artística. Porque geralmente a mulher tem uma sensibilidade diferente do homem", explica Marcela. "Se você fizer uma comparação entre portfólios de mulheres e homens, na maioria das vezes você percebe um trabalho de cor muito mais conciso por parte das mulheres".
São poucas as programadoras que entram para o mercado. E Marcela entende que a criação tem muita influência nisso. "A maioria das meninas com quem convivi não cresceram com a cultura de jogar videogame", diz.
Thais lembra-se da história contada por uma amiga, que cuida de um acampamento de verão onde crianças aprendem a programar jogos. "Ela diz que sempre vai em feiras e expõe seu acampamento, e que sempre tem meninas que ficam super empolgadas com o projeto. Quando elas chegam para os pais e falam, 'Eu quero fazer isso', a resposta costuma ser, 'Isso não é para você não. Talvez seus irmãos possam se inscrever, mas você é melhor não'".
"A maior parte das pessoas faz isso e nem percebe", diz Thais. "São estereótipos que a gente tem. E em jogos, infelizmente, a gente tem o estereótipo de que o jogador e o desenvolvedor são homens".
Inclusão
Trabalhando atualmente no Canadá, Mariana Boucault observa que o mercado brasileiro de games ainda precisa amadurecer para equiparar-se com os de outros países. "Atualmente, temos 9 mulheres no time. É a maior quantidade de mulheres com quem já trabalhei e está sendo ótimo", diz.
Graduada em design de games pela Universidade Anhembi Morumbi, Mariana garante que nunca sofreu preconceito em seus locais de trabalho, mas cita histórias de diferenças salariais entre homens e mulheres e acha que é preciso realizar ações de inclusão para que a participação feminina na indústria aumente cada vez mais.
"Hoje em dia, com a chegada dos smartphones, o acesso aos games ficou igual", explica Marcela. "Hoje já sabemos que as meninas têm tanto ou até mais interesse pelos jogos do que os homens".
Marcela faz alusão ao estudo Games Brasil 2016, que diz que 52,6% do público gamer brasileiro é composto por mulheres. Uma outra pesquisa já afirmou que eSports são mais populares entre mulheres do que entre homens. Mesmo assim, estima-se que 100% das mulheres gamers já tenham sofrido algum tipo de assédio.
"Se continuarmos progredindo assim, daqui pra frente, a cultura vai mudar e mostrar que games são algo para ambos os sexos".
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