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Preços altos, atrasos e inércia: Nintendo deixa a desejar no Brasil

Claudio Prandoni

Do UOL, em São Paulo

27/06/2013 19h01

A vida não tem sido fácil para os fãs da Nintendo: apesar do sucesso do 3DS, o Wii U sofre com poucos jogos e fraco apoio de outras produtoras.

Porém, para os apaixonados pela casa do Super Mario aqui no Brasil os últimos anos têm sido ainda mais difíceis.

Falta de suporte e evidentes progressos dos concorrentes deixam o país em um inconveniente 'limbo', causando em muitos uma certa sensação de descaso da Nintendo em relação ao Brasil.

Cadê o Wii U?

O caso mais recente e emblemático é o Wii U. Lançado em novembro de 2012 nos Estados Unidos, o videogame foi prometido para o 1º semestre deste ano no Brasil.

Mais de cinco meses sem informações passaram para que a Nintendo anunciasse durante a E3, feira que rolou entre 11 e 13 de junho, que o lançamento foi adiado. Agora, a empresa diz que vai tentar trazer o aparelho oficialmente para cá até o final de 2013. Mas não há nada garantido.

Em comparação, Sony e Microsoft já prometeram que PlayStation 4 e Xbox One chegam ao Brasil simultaneamente aos lançamentos nos EUA, previstos para o final do ano. Ou seja, há o risco de o Wii U sair no país somente depois de PS4 e XBO.

  • Divulgação

    Adiado no Brasil, o Wii U agora está previsto para o final de 2013

Jogos sem tradução

Outra grande lacuna na atuação da Nintendo no país da próxima Copa do Mundo é a ausência de jogos em português do Brasil.

Enquanto Sony e Microsoft já contam com amplos catálogos de títulos totalmente localizados para o nosso idioma, incluindo até títulos dublados e outros anunciados para PS4 e Xbox One, a Nintendo ainda não explorou essa área.

  • Reprodução

    Em Portugal, jogos de Wii U saem localizados em português, como "New Super Mario Bros. U". Por que não no Brasil?

Convenhamos, jogos como "Legend of Zelda: Skyward Sword" - ou mesmo o iminente "Wind Waker HD" -, que possuem muitos textos e dão importância ao enredo, ficariam bem mais fáceis de aproveitar com legendas em nosso idioma. Isso sem contar o fato de que a série "Zelda" não conta com diálogos falados...

Não só isso: um game como "New Super Mario Bros. U", que não possui lá muitos textos ou mesmo uma história complexa, ficaria mais acessível para um público mais jovem caso fosse traduzido, explorando ainda mais o forte apelo do herói junto às crianças.

Vale notar, em toda a América os jogos da empresa contam com inglês, espanhol e francês como opções de idioma, enquanto na Europa muitos títulos possuem suporte a português de Portugal, um mercado notavelmente menor do que o brasileiro.

Altos preços

Preços de jogos e consoles é uma questão complicada no mercado brasileiro. Não é novidade, mas vale relembrar: por conta da cascata de impostos que incide sobre videogames e games importados, o preço dos mesmos por aqui costuma ser, no mínimo, o dobro do valor praticado nos EUA.

CADÊ?

Programa indie
Pelo lado dos desenvolvedores de jogos a Nintendo também está em débito por aqui: a fabricante japonesa possui um programa de apoio a produtores indies, mas que não está disponível para estúdios no Brasil.
Club Nintendo
Uma ausência bem sentida pelos fãs mais fervorosos da Nintendo é o Club Nintendo. Trata-se de um programa de fidelidade em que acumula-se pontos ao registrar jogos e consoles da empresa. Depois, tais pontos podem ser trocados por itens exclusivos do programa, como cadernos, estojos e até jogos.

Por conta disso, nos últimos anos Sony e Microsoft tomaram medidas para diminuir os valores, principalmente através fabricação local de consoles e discos de jogo.

A Nintendo, por sua vez, continua na mesma, importando tudo pela Gaming do Brasil, também sua distribuidora exclusiva no país. A empresa não descarta fabricar localmente, mas nunca anunciou nada neste sentido.

Assim, o bom e velho Wii custa no mercado brasileiro cerca de três vezes o valor praticado nos EUA: R$ 700 aqui e US$ 130 lá fora. Enquanto isso, as edições nacionais de PlayStation 3 e Xbox 360 saem por aproximadamente o dobro de suas versões americanas: R$ 1100 e US$ 300 no caso do PS3, R$ 900 e US$ 200 para o X360 de 4GB.

Situação parecida acontece com os jogos: cartuchos de 3DS que custam US$ 40 no exterior saem aqui por R$ 150; lançamentos mais recentes do Wii custam R$ 170 contra US$ 60 no mercado americano e mesmo a linha econômica, em que cada jogo custa US$ 20, aparece em nossas prateleiras por R$ 80. Atualmente, nos rivais, um lançamento de US$ 60 aporta aqui por no máximo R$ 150 - e sempre com, no mínimo, legendas em português.

Curiosamente, a Nintendo foi, ao lado da Tec Toy, uma das empresas pioneiras a montar videogames no Brasil. Durante a década de 90, bons tempos da parceria entre Nintendo , Gradiente e Estrela, que criou a Playtronic, houve edições tupiniquins do NES, Super Nintendo, Nintendo 64 e até GameCube - além dos portáteis da família Game Boy.

A falta de dados públicos precisos sobre números de vendas de consoles e jogos torna difícil a tarefa de saber se todas essas omissões da Nintendo no Brasil afetam de alguma maneira a atuação da empresa no país.

De qualquer maneira, tratam-se de benefícios e serviços que a fabricante concede a outros mercados, que as concorrentes já oferecem com boa qualidade por aqui e que, principalmente, muitos fãs clamam há muito tempo.

UOL Jogos procurou a Nintendo para comentar as questões apontadas por esta reportagem e ela nos enviou o seguinte comunicado oficial, escrito por Bill Van Zyll, gerente geral da Nintendo para a América Latina.

A resposta da Nintendo

“Nós sabemos que existem milhões de fãs da Nintendo no Brasil, pessoas que amam tanto seus consoles quanto os portáteis, e que estão jogando e esperando por novas experiências que a Nintendo tem a oferecer. Estes fãs são muito importantes para nós – eles são as pessoas para quem nós fazemos nossos jogos e por quem lutamos para surpreender e agradar com cada novo hardware e título lançados.

Como anunciamos recentemente  na E3, nosso objetivo é lançar o Wii U no Brasil no fim deste ano. A razão que levou a esta decisão foi uma questão de valor, e este valor vem com jogos. Na E3 nós reafirmamos nossa crença de que software vende hardware. Pessoas compram um novo console ou portátil porque eles representam novas e interessantes experiências de jogos.

Nós sabíamos que em seu lançamento, o Wii U seria mais caro no Brasil do que é nos EUA, então sentimos fortemente que precisávamos de um lineup robusto de jogos disponíveis para o console no Brasil que fosse agregar este valor. Agora que anunciamos títulos como Super Mario 3D World, Mario Kart 8, um novo Super Smash Bros. para o Wii U e o Nintendo 3DS, Donkey Kong Country: Tropical Freeze e divulgamos datas de lançamento para novo jogos como Pikmin 3, The Legend of Zelda: The Wind Waker HD, The Wonderful 101 e Bayonetta 2, sentimos que chegou a hora de reavaliar a data de lançamento para o Wii U no Brasil.

Especificamente com relação ao preço, muitos elementos entram nesta equação, tanto para o hardware e o software, incluindo taxas locais, tarifas e outros custos da cadeia de produção e diversos fatores do mercado local. Estes fatores têm um impacto direto no preço e o que nós precisamos levar em consideração em nossos esforços para levar aos fãs o melhor valor possível: a melhor experiência pelo melhor preço.

Falando a respeito de cadeia produtiva, isto nos leva ao assunto da produção local de produtos no Brasil. Por enquanto não temos nada a anunciar com relação à produção do Wii e do Wii U, mas assim que tivermos mais informações para compartilhar, nós garantiremos que vocês saberão.

Com relação aos fãs e aqueles que querem jogar nossos títulos, existe uma crescente comunidade de pessoas que são apaixonadas por fazer jogos. Desenvolvedores independentes podem disponibilizar seus próprios conteúdos nas plataformas da Nintendo desde o primeiro dia do WiiWare. Assim que um desenvolvedor se torna licenciado pela Nintendo, se eles acreditam o bastante em seus jogos para investir seu tempo e dinheiro neles, nós queremos possibilitar que eles possam levar este conteúdo para uma plataforma da Nintendo.

No caso especifico do Wii U e do programa que detalhamos durante a GDC 2013, o equipamento para desenvolvimento necessário para se aproveitar o programa necessita de um processo de certificação separado e que atualmente não está disponível para o Brasil. Como este kit de desenvolvimento é uma parte integral das ferramentas de desenvolvimento de jogos, a Nintendo está trabalhando fortemente para obter a certificação necessária, expandindo assim o programa para o maior número de territórios possíveis. No momento não temos condições de prever quanto tempo este processo levará.

Por fim, existe a questão da língua, que sabemos ser muito importante para nossos fãs. Embora não tenhamos nenhuma nova informação com respeito à localização de jogos first party para o português, vimos muitos jogos para WIi U na E3 2013 que estarão disponíveis em português – esta é a última informação que temos. Apenas para citar alguns: "Assassin’s Creed 4: Black Flag", "Watch Dogs", "Splinter Cell: Blacklist" e "Just Dance 2014" da Ubisoft; "Skylanders SWAP Force" da Activision, "Disney Infinity", "Disney’s Planes" e "Cloudberry Kingdom". O próprio hardware do Wii U – incluindo o sistema operacional, manuais e outros documentos – estará disponível em português em seu lançamento.

Para concluir, seguimos nossa missão. Queremos surpreender e agradar nossos fãs no Brasil e colocar um sorriso em seus rostos. A E3 2013 foi uma oportunidade para compartilharmos – em alguns casos pela primeira vez – um incrível lineup de novas experiências de jogos disponíveis no sistema da Nintendo, e agora que vocês viram o que está por vir, nós faremos nosso melhor para levar estas novas experiências para nossos fãs.”