Aperte START para começar

As transformações do botão que está na origem dos videogames

Bruno Izidro e Renato Bueno Do UOL, em São Paulo Luis Di Vasca/UOL

Insira uma ficha

No início, havia o botão Start. Antes de colocar uma ficha no fliperama ou de começar um jogo tão esperado, lá estava o primeiro acordo entre máquina e jogador.

O videogame pedia "pressione Start", e cabia ao Player 1 tomar a decisão e assumir o controle, na expectativa da aventura que começava ali.

Desde os primeiros aparelhos, no início da década de 70, o botão Start passou por diversas mudanças. Foi adaptando-se de acordo com os equipamentos, as necessidades dos desenvolvedores e os padrões da indústria. Às vezes, ele era tímido e escondido no console, outras vezes ficava bem no meio do joystick.

Com o tempo, ele também foi atendendo por outros nomes. No Intellivision, havia um botão de "Enter". Mais recentemente, o Start é "Menu" no Xbox One, "Options" no PS4, e "Plus" no Nintendo Switch. Nomes diversos, mas com a mesma função de passar o poder para o jogador. Com o Start você toma uma decisão, inaugura um novo começo.

Por isso escolhemos o Start como a nossa identidade. Estamos prontos para começar uma nova história no mundo dos games e dos eSports, e apertar o botão é só o primeiro passo. Bora STARTAR?

Protótipos e invenções

Nos primeiros protótipos e cabines de fliperamas estavam os primeiros conjuntos de botões, suficientes para dar conta do básico: começar o jogo e comandar as ações na tela.

Durante as primeiras gerações de videogames, entre 1972 e 1982, não havia padrões de nomenclatura ou estilo. A indústria ainda tentava entender suas necessidades e como se comunicar com o jogador, produzindo uma variedade de formatos e interações ao longo dos anos.

Enquanto um Magnavox Odyssey (1972) trazia um grande botão de Reset em seu controle, o Atari 2600 (1977) tinha alavancas de Power e Reset no console, além de um único botão vermelho no joystick. Consoles como o Intellivision (1979) e o Atari 5200 (1982) já tinham joysticks numéricos, com teclas de 0 a 9, o que parece impraticável hoje em dia.

"Computer Space" (1971), considerado o primeiro fliperama comercial, tinha o botão Start Game no painel de controle, enquanto as versões domésticas de Pong, lançado pela Atari em 1975, traziam um Start no corpo do console. Já na versão comercializada no Brasil, o famoso Telejogo, o Start foi traduzido para Início-Jogo.

Jurássicos

O Start vai procurando seu lugar

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Computer Space, 1971

No primeiro fliperama comercial da história, os botões lembravam mais um painel de controle. Eram quatro opções para comandar o foguete, além de botões de operação como "devolver a ficha" e o "Start Game". "Computer Space" foi desenvolvido por Nolan Bushnell e Ted Dabney, que mais tarde fundariam a Atari.

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Intellivision, 1979

O Intellivision sobreviveu por gerações e mudanças de design até os anos 90. Uma das marcas registradas era o controle, embutido no console. Ele tinha um disco direcional, botões de ação laterais, um teclado numérico e dois comandos: "Clear" e o "Enter", que fazia as vezes de Start.

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Atari 5200, 1982

O irmão mais velho do Atari 2600 não teve sucesso comercial, e foi descontinuado em 1984. Seu joystick tinha muitos problemas técnicos, mas tentava inovar com um botão de "Pause" junto da dupla "Start" e "Reset". O console também trazia quatro entradas de controles, novidade na época.

Clássicos

Um padrão em diferentes formas

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PlayStation, 1994

O característico Start em formato de seta da Sony atravessou gerações: aparece não só PlayStation clássico (1994), mas também nos sucessores PlayStation 2 (2000) e PS3 (2006).

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Nintendo 64, 1996

Com um design inovador, o controle do Nintendo 64 se baseava no conceito de diferentes empunhaduras. O botão de Start era redondo e vermelho, quebrando o padrão Nintendo.

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Dreamcast, 1998

No último console de videogame lançado pela Sega, o botão Start tinha formato triangular e ficava bem no centro do controle, seguindo as cores claras do acessório.

Por que jogos de tiro usam os gatilhos de trás do controle? Porque lembra a ação de puxar o gatilho de uma arma. Isso é ergonomia, associação e sensação. Os controles são mais uma camada de decisão de design, eles fazem parte do que você quer passar no jogo também.

Maíra Testa, game designer do estúdio Rogue Snail

Os videogames invadem o lar

Depois de anos de experimentações de formatos e tecnologias, os videogames começaram a ser "domesticados". A era de ouro do final dos anos 70 terminou com o "crash" do mercado americano em 1983. Com a indústria mais cuidadosa, a terceira e a quarta gerações começaram a encontrar uma padronização bastante funcional.

Alguns dos consoles mais famosos, como o NES (1983), Super Nintendo (1990), Master System (1985) e Mega Drive (1988) são exemplos do formato clássico. Os controles apresentam direcional, botões de ação e, quase sempre, a dupla Select e Start.

No Mega Drive, que apostava no formato curvo do joystick como diferencial da marca diante da Nintendo, o Start aparecia deslocado para a direita, acima dos botões A, B e C. Na versão mais moderna do controle, com seis botões, o Start iria para o centro do joystick.

Nessa época, o Start trazia as funções básicas de iniciar o jogo e pausar. Conforme os jogos iam ganhando complexidade e exigiam a criação de menus e diferentes ações, como em jogos de RPG, o Start também passava a ser peça-chave nas interações, e não só um botão de "pause".

Miniaturas

Cada portátil com seu estilo

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Game Boy, 1989

O eterno portátil da Nintendo trazia um botão de Start básico, que seguia o estilo dos primeiros consoles da empresa e fazia dupla com o Reset. Nas versões seguintes, como Game Boy Advance e Micro, o Start foi adaptado para outros formatos.

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Game Gear, 1990

A aposta da Sega para bater o Game Boy foi o Game Gear, um portátil com fome de bateria, tela colorida e até receptor de TV como acessório. Nele, o botão Start era azul, e ficava próximo à tela, ao alcance do polegar direito, acima dos botões 1 e 2.

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PSP, 2004

No potente portátil da Sony, o destaque era a deslumbrante tela, com os botões na periferia. A dupla Select + Start ocupava a barra inferior de comandos, ao lado de outros botões, e continuaria presente no sucessor PS Vita, lançado em 2011.

Moderninhos

"Aperta o Start", mas com outro nome

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Xbox One, 2013

No Xbox 360, a dupla "Select-Start" se chamava "Back-Start", e no Xbox One os botões mudaram para "View" e "Menu". A função, porém, permanece a mesma: iniciar, pausar, abrir um menu de opções durante um jogo.

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PlayStation 4, 2013

Depois de gerações com o Start tradicional, a Sony inovou com o DualShock 4. Além do painel de toque e do botão de "Share" para compartilhar vídeos e fotos, o controle trocou o Start por "Options", em formato vertical.

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Nintendo Switch, 2017

Nos consoles da Nintendo a partir do Wii (2006), o padrão passou a ser um "-" como Select, e um "+" como Start. O Switch (2017) seguiu a regra, mas não deixou de inovar com seu Joy-con, acoplado à lateral da tela para virar portátil.

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"Press Start" pra quê?

As funções ocultas da tela inicial

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Origem nos arcades

O "Press Start" surgiu nos jogos de fliperama, explica a game designer Maíra Testa. Era uma necessidade de mercado: atrair jogadores enquanto ninguém estava jogando. Então as máquina ficavam rodando o "Attract Mode", com cenas do jogo em ação, enquanto o "Press Start" piscava na tela, pedindo para o jogador colocar uma ficha.

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Toque de mágica

Em consoles antigos, a tela de Start também ajudava no pré-carregamento dos elementos do jogo em segundo plano, o que permitia que os games começassem mais rápido. Em jogos como "Sonic" (1991), é na tela de Start que o jogador pode executar os "cheat codes" para ter o poder de escolher as fases.

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Requisito obrigatório

Depois de tanto tempo, ainda precisamos de uma tela de Start? Nos consoles mais modernos, a tela de Start atende exigências técnicas dos fabricantes para padronização da experiência. E, como bônus, a tela passou a servir também para reconhecer qual dos controles disponíveis será o prinicipal.

A nova realidade do Start

O nome Start passou a ser deixado de lado a partir de videogames como o Nintendo Wii, em 2006. O controle Wiimote possuía agora os botões Home e Plus.Com a chegada do PlayStation 4 e Xbox One, em 2013, o Start sumiu de vez. O PS4 mudou o nome do botão para Options enquanto a Microsoft adotou a nomenclatura Menu.

Os nomes mudaram também na tela de início, com algumas plataformas informando "Pressione A para iniciar" ou ainda "Pressione qualquer tecla". Como explica a game designer Maíra Testa, essas funções fazem parte dos requerimentos técnicos dos fabricantes de consoles, e não são uma mera reprodução de soluções do passado.

Com o ressurgimento dos aparelhos de Realidade Virtual, foi necessário desenvolver novas formas de interação. No caso da Sony e seu PlayStation VR, o Start continua vivo através do PlayStation Move. Já em outros dispositivos, como os da Oculus e Valve, seguiu-se a tendência da nomenclatura de Menu ou botão do sistema.

Assim como faz parte do universo gamer desde os primeiros momentos, o Start continua a ser uma referência inseparável de nossas experiências nos jogos. O Start representa o poder nas mãos dos jogadores, e o ponto de partida de novas aventuras.

Realidade Virtual

Luis DiVasca/UOL

PlayStation VR, 2016

O aparelho de realidade virtual da Sony ressuscitou os esquecidos controles de movimento do PlayStation 3, o PlayStation Move. Aqui o botão Start continua vivo, ainda que discreto, na lateral direita do joystick.

Luis DiVasca/UOL

Oculus Rift, 2016

Os controles de movimento Oculus Touch só foram lançados alguns meses depois do Oculus Rift. Assim como no controle do Xbox One, o Oculus Touch traz o botão menu, o que continua no recente Oculus Quest.

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