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Manhunt 2

08/11/2007 23h28

A produtora Rockstar tem gosto pela polêmica. Não bastasse ter colocado no mundo a série "Grand Theft Auto", em que lhe pesam acusações de apologia à bandidagem e de racismo, desafiou mais uma vez os conservadores com um game de fazer horrorizar qualquer militante que defenda o fim dos games violentos. O primeiro "Manhunt" entrou para a história como um dos jogos mais brutais de todos os tempos.

Por isso, quando a produtora anunciou o segundo episódio, a patrulha que defende a moral e os bons costumes ficou em polvorosa. Talvez tenha sido pressão da ala conservadora, ou, de fato, a produtora tenha exagerado na dose, mas a ESRB, órgão dos Estados Unidos que classifica os games por faixa etária, tascou o temido selo "AO" (somente para adultos) para "Manhunt 2", impedindo que o título fosse lançado (Nintendo, Sony e Microsoft disseram que faz parte de sua política não publicar jogos com essa classificação).

A versão que chega às lojas teve a representação de violência atenuada, e, assim, o game conseguiu o selo "M", indicado para maiores de 17 anos. Mesmo mais "leve", o título foi banido na Inglaterra e na Alemanha. Por tudo isso, "Manhunt 2" é definitivamente o game mais polêmico desde "Bully" (nesse caso, as críticas mostraram ser descabidas mais tarde), da mesma Rockstar. Alguns dizem que é de propósito, mas o fato é que toda essa repercussão gerou uma imensa publicidade.

Mas a experiência diante do game revela que ele não está à altura do "hype". A continuação é conservadora, no sentido de que segue exatamente os preceitos do título original. E ainda tem uma desvantagem: não conta com o efeito surpresa do primeiro "Manhunt". Por outro lado, o brilhante design de jogo do antecessor, que pode ser definida como uma versão macabra de "Splinter Cell", está de volta.

Matando no escuro

"Manhunt 2" é um jogo de ação e aventura. O diferencial, claro, está na violência, trazendo as cenas de morte mais perturbadoras entre os games para consoles (definitivamente, no Wii, não há nada similar), nada recomendável para crianças e quem tem estômago fraco. Por outro lado, quem delira ao assistir filmes como "O Albergue" - que parece ser uma das influências do game -, vai se sentir confortável.

No primeiro game, a barra pesa já no enredo, no qual um sádico diretor filma o desespero de alguém que luta por sua vida - e as horríveis mortes que ele provoca. Essa história de horror dá lugar a uma trama de paranóia, no qual dois protagonistas, Daniel Lamb e Leo Kasper, dois internos de um hospício, tentam descobrir a verdade sobre "O Projeto", que faz sugerir experimentos secretos e macabros.

É exatamente na instituição para doentes mentais onde tem início o game. Como de praxe, trata-se de uma fase introdutória, que tem a função de colocar o jogador "no clima" do enredo e fazê-lo se acostumar com os controles, que não diferem muito dos outros títulos de ação em terceira pessoa. Na verdade, a referência mais próxima é "Resident Evil 4", mas um pouco menos fluido. E também incorpora elementos de furtividade de um "Splinter Cell", por exemplo.

Os protagonistas são pessoas "comuns", ou seja, não tem exatamente a capacidade de luta de super-heróis e agentes especiais. Por isso, o elemento surpresa é sua principal arma contra seus inimigos. A regra básica é andar sem fazer barulho e pelas sombras. Nesses locais sem luz - você também pode quebrar lâmpadas para criar escuridão -, seu personagem passa despercebido.

Espreitando-se pelas sombras e usando obstáculos, o objetivo é chegar perto dos oponentes sem ser percebido. Nessa situação, você está pronto para ativar as execuções, desde que possua uma arma. Como no game anterior, quando mais tempo deixar pressionado o botão de ataque, mais brutal é a morte. As execuções têm três níveis de violência, algumas bastante perturbadoras.

Essas são as cenas que foram atenuadas. Na verdade, a animação original continua lá, mas um efeito que simula uma confusão mental se sobrepõe á imagem. Então, com a tela quase opaca, trata-se de uma violência sugerida, que, dependendo do caso, pode ter um efeito ainda mais perturbador. É difícil saber se a violência original traria ganhos em termos de diversão (a versão integral foi autorizada em poucos lugares, como na Holanda), pois a brutalidade já é grande.

'Me traz a 12!'

As execuções variam conforme a arma, e o arsenal é farto: vai desde o famigerado saco plástico a serras elétricas. Além disso, os ambientes podem atuar para ceifar a vida dos oponentes. Esses lugares são marcados com uma caveira no mapa, e basta fazer o comando de execução nesses pontos. Essas "enviroment kills" não possuem três níveis de brutalidade, apenas um, já bastante violento. Você vai jogar inimigos em bueiros e privadas (não sem antes afundar seus crânios), eletrocutá-los e até mesmo colocá-los dentro um instrumento de tortura chamado iron maiden, que consistem num sarcófago cheio de espinhos.

É quase imperativo usar as execuções, pois as lutas francas são muito duras. Se contra um já é difícil sobreviver, fica quase impossível quando aparecem em grupo. No entanto, se eles têm músculos avantajados, o mesmo não se pode dizer de sua inteligência, um dos pontos fracos do game. Mesmo se você for encontrado, pode-se correr e despistar o inimigo, escondendo-se na escuridão. Muitas vezes, eles têm reações inexplicáveis: vêem um companheiro morto, ficam apreensivos por um tempo, mas depois agem como se nada tivesse acontecido. A situação começa a complicar quando aparecem adversários munidos de lanterna.

No entanto, a dificuldade diminui consideravelmente quando surgem as primeiras armas de fogo, que parecem poderosas demais. Por isso, não existe mais a tensão e o medo em relação aos oponentes, ao menos na maioria das situações. Nesse ponto, também ficou devendo ao primeiro "Manhunt".

Sexo, sangue e silêncio

Os controles são similares nas três edições: Wii, PlayStation 2 e PSP. Naturalmente, existem algumas diferenças, principalmente no console da Nintendo: os recursos de apontador e sensor de inclinação são usados em certas situações. Por exemplo, de vez em quando, um oponente resolve verificar mais minuciosamente um local suspeito, e para o jogador se safar, é preciso apontar o Wii Remote para uma parte demarcada da tela, ao passo que, nos consoles da Sony, aperta-se um botão. O PSP costuma ter problemas com os controles, mas "Manhunt 2" tira isso de letra.

O game tem ótima direção de arte, principalmente nos cenários mais caóticos, como o hospício e as casas abandonadas. Mas, tecnicamente, as versões para Wii e PlayStation 2 não impressionam. No entanto, a edição para PSP é bastante parecida com as contrapartes para consoles, o que pode ser considerado uma proeza, diante de algumas limitações do portátil. E os filtros que adicionam ruídos à tela ajudam a esconder as texturas em baixa definição. Uma das poucas coisas que irritam no PSP é o longo tempo de carregamento, e as pequenas pausas para registrar os "checkpoints".

A história não é tão insana quanto a da primeira aventura, mas a Rockstar mostra o talento habitual para diálogos e conduz bem o enredo. O selo "M" não é apenas pela violência, pois "Manhunt 2" abusa também do sexo e do linguajar sujo. É difícil repetir um personagem tão marcante como Pigsy, mas o "elenco" do game traz figuras, ao menos, autênticas, como se pode notar pelas diversas gangues.

O som também é bem aproveitado. A trilha sonora é incidental; o silêncio predomina em boa parte do jogo. Perfeito para criar um clima de tensão. A quietude permite ouvir os diálogos dos inimigos, algumas bem engraçadas. Em outras situações, eles ameaçam o protagonista. De todo jeito, as falas parecem naturais, sem repetir frases. E as interpretações nas cenas não-interativas são excelentes, como sempre.

Nota: 6 (Razoável)