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Mortal Kombat Armageddon

20/10/2006 19h55

"Mortal Kombat" é um dos poucos sobreviventes da era das lutas, iniciado pelo lendário "Street Fighter II" no começo dos anos 90. Aliás, a série criada pela Midway foi uma resposta ao sucesso da Capcom, mas conseguiu amealhar tantos fãs quanto este, iniciando uma longa rivalidade. O sucesso veio pelo contraste: "Mortal Kombat" usava atores reais para os personagens, além de caprichar na violência - com direito a litros de sangue e mutilações de todo tipo -, um choque para a época (1992).

Pulando para 2006, a Midway escolheu um nome propício para terminar a franquia "Mortal Kombat", pelo menos da atual geração de consoles. A palavra Armageddon se refere ao local das batalhas decisivas nos tempos antigos e, por extensão de sentido, os confrontos dos fins dos tempos. É exatamente esse o clima de "Mortal Kombat: Armageddon", que reúne quase todos os seus lutadores do passado e presente para uma batalha definitiva.

Cada um por si e os deuses contra todos

"Mortal Kombat Armageddon" é um jogo de luta clássico em 3D, sucessor da edição "Deception", de 2004. A mecânica é baseada em títulos como "Virtua Fighter", precursor do gênero, mas com uma maneira totalmente particular, como tem sido a marca da franquia da Midway. Em geral "Armageddon" supera muitos aspectos do antecessor, mas também há características que ficaram piores.

A história é bem simples (na verdade, já está tão bagunçada que a produtora nem colocou a biografia dos personagens, já que alguns tinham morrido). Com o crescente número de lutadores poderosos que surgiram no mundo terreno e no infernal Outworld, e isso poderia levar ao apocalipse, os deuses anciões criaram uma pirâmide e trouxeram um guardião dos elementos, Blaze, para tentar acabar com o maior número de "kombatentes" possíveis. A apresentação mostra esse clima de caos, com todos os lutadores se digladiando para chegar a tal pirâmide. Já tem muita ação antes de pressionar o botão Start.

O estilo mortal de "kombate"

O enredo é apenas um mero detalhe - na verdade o pretexto ideal para recomeçar a série na próxima geração, com menos personagens -, pois os fãs de série querem mesmo saber das lutas e dos golpes violentos característicos. Há novidades boas e outras nem tanto, mas no geral o que predomina é a tradição. O sistema básico ainda é o mesmo, com dois botões para socos e dois para chutes, que, combinados com o direcional permite fazer diversos combos e golpes especiais.

Ainda há movimentos de agarrar, defender e até de quebrar um combo. A novidade aqui é um botão de "parry", que consiste em "aparar" o golpe do oponente, fazendo-o mostrar suas costas e ficando indefeso por alguns segundos, tempo suficiente para um ataque bem dolorido. É um movimento eficiente, mas de risco, pois é necessário apertar o botão de defesa na última hora (e colocando o direcional para trás).

Outra boa novidade é a adição de lutas aéreas: todos os personagens ganharam boas opções de combos no ar. Eles aumentam a gama e estratégias e dá mais dinamismo aos combates, apesar de a animação ser aquele estilo meio robótico da série.

Mesmo tendo mais de 60 lutadores para escolher, o problema é que não há muita distinção entre eles. Todos têm controles um tanto semelhantes, com exceção de alguns poucos lutadores, devido aos seus especiais. E nem adianta trocar o estilo de luta, que agora foi reduzido a um para mãos vazias e outra com armas - alguns "monstros" nem isso têm.

"Armageddon" até tem mais profundidade que os antecessores, graças ao acréscimo do "parry" e dos combos aéreos, mas a falta de movimentos únicos e as seqüências pré-programadas fazem com que não chegam nem perto de um "Soul Calibur III", por exemplo, em que as possibilidades de atacar e contra-atacar parecem inesgotáveis. Ainda assim, é possível ter lutas de alto nível no game. Uma modalidade online expande as possibilidades, podendo lutar com jogadores do mundo inteiro.

Mil maneiras de fazer picadinho

A interação com o cenário está ótima, como sempre, e proporcionam bons momentos. Você pode jogar os inimigos para a linha do metrô, em ventiladores gigantes ou direto num sino, no novo cenário de "Armageddon". Além de garantir mais danos, novas partes dos cenários podem ser reveladas. Na hora do "stage fatality", há várias opções para usar o cenário e terminar com o oponente. Em um deles, o perdedor ficou espetado em estalagmites, sangrando e desmembrado.

O sistema de "fatalities" foi mudado, mas não deverá ser unanimidade. Agora, eles não são comandos específicos para cada personagem que gera finalizações únicas, mas uma série de movimentos iniciais, transitórios e de encerramento, como um combo. Assim, o jogador tem a liberdade de "montar" como quiser seu "fatality", mas, em contrapartida, o sistema é bem mais complexo, ainda que seja possível começar com um movimento de encerramento.

O modo "Kombat" é bem simples, sendo subdividido em "Arcade", uma luta contra oito oponentes e Blaze, "Versus", para dois jogadores locais, e "Practice", para treinar contra um inimigo parado. O game ainda tem outros tipos de conteúdo, mas opções mais ricas poderiam valorizar mais o produto, como a produtora Namco faz muito bem, colocando toneladas de modalidades. O final de cada lutador é simples também, mostrando apenas um texto e o lutador fazendo movimentos coreografados típicos de escolas de artes marciais - chamado "kata", na língua japonesa.

A modalidade que "konquista"

O modo "Konquest" é a maior evolução do game. Agora, ele virou um jogo de ação e aventura nos moldes de "Shaolin Monks" e está muito mais divertido que a modalidade homônima inclusa em "Deception". Ele traz uma história própria, centrada em Taven, um personagem original. Ele e Daegon, filhos do deus Argus, foram acordados de seu sono profundo para encontrarem as armas sagradas e se prepararem para enfrentar Blaze. O vencedor será o protetor de Edenia, o reino de Argus.

No caminho, basicamente linear, há muitos baús e outros tesouros, alguns bem escondidos, que conferem dinheiro e extras, como novas roupas, acessórios para personagens, músicas e outras mídias. Uma idéia excelente foi simplificar o "sistema monetário" do game, pois, agora, em vez de seis moedas, há apenas uma. Como sempre, elas servem para comprar golpes e outros recursos.

No caminho, há diversos combates como os de "Shaolin Monks", contra vários oponentes ao mesmo tempo, com direito a vários especiais, como poderes de provocar uma onda sísmica ou parar o tempo. Isso gasta uma energia auxiliar, mas à medida que vai matando os inimigos, itens de recuperação vão aparecendo. É possível fazer decapitações e outras atrocidades em cada um dos inimigos, principalmente se estiver com uma arma.

De tempos em tempos também surgem lutas mano-a-mano, como no modo tradicional. O único problema é que não é possível aplicar os "fatalities" nesses inimigos, vá saber a razão. Eles dizem que os caminhos dos dois ainda irão se cruzar, mas chega ao final do game - que dura cerca de seis horas - e muitos não dão as caras novamente.

Mas se o "Konquest" ficou melhor, o mesmo não se pode dizer do minigame. O quebra-cabeça e o xadrez do título anterior deram lugar a "Motor Kombat", um jogo de kart. Trata-se de um game de corrida simples, com dez personagens - estilizados ao estilo "minicraques" -, cada um com seu ataque particular. Há itens como moedas, velocidade e reposição de ataques. O diferencial é que os personagens se espatifam em paredes e caem de precipícios, mas a mecânica simples não segura a atenção por muito tempo, nem sozinho nem com vários jogadores - há até uma opção online, para até oito pessoas, mas há alguns problemas com atraso de comunicação.

Um batalhão pronto e mais para criar

O game já traz mais de 60 lutadores, mas o jogador pode, pela primeira vez, construir seu próprio personagem. Os movimentos básicos são baseados em um dos estilos pré-definidos, como caratê, kick boxing, jiu-jitsu, "val tudo (sic)", jeet kune do e uma série de lutas chinesas, apesar de os criadores não entenderem muito as diferenças de cada arte marcial. O jogador também define um estilo com armas. Por fim, há como designar até quatro golpes especiais - um de cada tipo -, uma provocação e um arremesso. Dá até para criar uma história para o personagem, cujo texto aparece no final do modo "Arcade".

A customização exterior é mais ampla e se prevê muita gente criando personagens de outros games e de outras mídias, como aconteceu com "Soul Calibur III", em que pipocaram sites ensinando fazer lutadores como He-Man e Seu Madruga, venerado personagem do seriado "Chaves". Mas uma vez, o clássico da Namco vence no quesito variedade na hora de criar lutadores.

O visual de "Mortal Kombat: Armageddon" é básico e a evolução para os antecessores não é muito grande. Tem mais efeitos, que ajudam a polir os gráficos. Ao menos, o fluxo de tela é bem suave, com cerca de 60 quadros por segundo. As edições para Xbox e PlayStation 2 são virtualmente idênticas. As animações têm aquelas características típicas da série, um pouco duras. A profusão de sangue e desmembramentos é um ponto sensível para alguns, mas são tão exagerados que chegam a ser cômicos (o sangue parece mais uma massa vermelha). Mas, quem não se sentir confortável pode reduzir o nível de violência.

A trilha sonora é ótima como sempre, alternando aquelas composições sombrias e cheias de clima com o rock pesado. As vozes são típicas, assim como a voz do narrador, uma marca registrada da franquia.

Onde todos os lutadores se encontram

"Mortal Kombat Amageddon" encerra sua luta na atual geração com dignidade e muito serviço. A quantidade de personagens beira o absurdo e ainda dá para criar seu próprio lutador, além de o modo de aventura ficou bem divertido. Poderia, sim, ter mais opções, especialmente no modo principal, mas os fãs da franquia terão uma despedida com muito conteúdo.

Nota: 8 (Ótimo)