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Análise: "F1 2018" mantém alto nível da franquia, mas será que isso basta?

Rodrigo Lara

Colaboração para o UOL

20/08/2018 04h00

Quando foi a última vez que você assistiu a uma corrida de Fórmula 1? Posso falar por mim: sempre fui um fanático por corridas, mas confesso que faz alguns meses que não assisto um GP na íntegra.

A principal razão disso é a dose enorme de monotonia que permeia as corridas. É uma sensação que persiste mesmo se levarmos em conta que ali provavelmente estão os carros mais velozes do mundo, pilotados pelos melhores pilotos da atualidade e nas pistas mais desafiadoras.

É mais ou menos essa a sensação ao se jogar "F1 2018", o lançamento mais recente da franquia de games oficial do Mundial de Fórmula 1. Em versões para PC (R$ 109,99), PlayStation 4 (R$ 229,99) e Xbox One (R$ 230), ele chegará às lojas no dia 24 de agosto - vale notar que esses preços do game nos consoles se referem às edições de pré-venda, que trazem dois carros clássicos a mais.

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Novamente pelas mãos competentes da Codemasters, o game serve como uma atualização em relação ao jogo do ano passado, trazendo pilotos e equipes em conformidade com o que ocorre no campeonato deste ano e as alterações mecânicas e estéticas dos carros mais recentes.

Gráficos de "F1 2018" - Reprodução - Reprodução
Gráficos de "F1 2018" são um ponto forte
Imagem: Reprodução

Sim, o controverso "halo", aquele arco que visa proteger os pilotos, também marca sua estreia na categoria.

Fora isso, o jogo amplia um pouco as funções do jogador fora das pistas e traz leves mudanças na jogabilidade.

Será o suficiente para empolgar? Vejamos abaixo.

Acima de tudo, um bom jogo

Considerando games de corrida que se concentram em apenas uma categoria, a série "F1" é a que melhor equilibra simulação e acessibilidade. É uma tecla que temos batido nos últimos jogos da franquia, em um movimento que começou com "F1 2016" e se repetiu em "F1 2017".

E o que isso quer dizer? Que tanto faz se você é daqueles "pilotos virtuais" que não abrem mão de jogar um game assim sem qualquer auxílio e usando volante e pedais ou se você é do tipo que quer só sentar, pegar o controle e se divertir: "F1 2018" é capaz de agradar a ambos os perfis.

Soma a isso bons gráficos, uma física dos carros agradável e controles bem afiados e temos um bom pacote em termos técnicos.

No quesito jogabilidade, merece destaque o fato de que o game permite que o jogador selecione perfis de operação dos sistemas de recuperação de energia do carro, o ERS. Esses sistemas acumulam energia armazenada em desacelerações e frenagens, por exemplo, convertendo isso em uma reserva de potência para ser usada da maneira que o piloto desejar.

Basicamente é um sistema mais complexo do que o antigo KERS, que ao toque de um botão despejava uma potência adicional.

Halo em "F1 2018" - Reprodução - Reprodução
O infame halo está presente e atrapalha a vida de quem corre com visão do cockpit
Imagem: Reprodução

Em vez disso, o jogador escolhe o perfil de uso que bem entender e o carro administra o uso dessa potência adicional. O perfil pode ser desde agressivo, para uma situação de ultrapassagem ou volta rápida, até econômico, de maneira a acumular energia no sistema.

Esse gerenciamento é feito em tempo real, pelo mesmo menu que o jogador pode controlar o consumo de combustível e outras funções do carro.

Quem achar a ideia muito complicada, basta escolher a opção automática e deixar esse gerenciamento na mão do game.

Outro ponto que acaba afetando a jogabilidade é a presença do já citado "halo". Aqui, quem utiliza a câmera do cockpit tende a precisar de um período de adaptação, uma vez que a estrutura atrapalha um pouco a visão da pista.

No mais, é o bom e velho "F1" que os fãs conhecem bem. E isso pode ser tanto um elogio quanto uma crítica, como veremos adiante.

Fórmula esgotada

"F1 2018" traz um dos grandes pontos positivos vistos no game do ano passado: a presença dos carros clássicos da categoria. Esses modelos, que representam uma viagem por várias décadas da modalidade, oferecem experiências únicas aos jogadores.

Pilotar uma Lotus de 1972 não tem muito a ver com guiar a Williams de 1992 ou a Renault de 2006. Carros de eras distintas oferecem desafios específicos e ajudam a tornar a jogabilidade do game sempre fresca.

Carros clássicos em "F1 2018" - Reprodução - Reprodução
Carros clássicos oferecem variações na jogabilidade tradicional
Imagem: Reprodução

Os modos de jogo, por sua vez, praticamente repetem o visto em "F1 2017". É possível criar um piloto (quase) à sua imagem e semelhança e colocar ele para começar uma carreira na Fórmula 1, sendo uma modalidade de jogo bem longeva e que, em vários pontos, se assemelha a um RPG.

Nela, a Codemasters passou a dar mais relevância para as atitudes do piloto fora das pistas, como as respostas que ele dá durante entrevistas e como isso afeta o relacionamento com o time. Além disso, também está presente a árvore de aprimoramentos com muitas opções de melhorias para o carro, cabendo aos jogadores escolherem quais áreas serão privilegiadas.

Além disso, é possível disputar campeonatos com regras específicas, participar de eventos e campeonatos exclusivos de carros clássicos ou, ainda, encarar outros jogadores de carne e osso no modo multiplayer.

Entrevistas em "F1 2018" - Reprodução - Reprodução
Entrevistas são um elemento adicional do modo carreira de "F1 2018"
Imagem: Reprodução

É uma lista de modos bem sólida, mas que já traz consigo uma leve "camada de poeira". A sensação que fica, usando termos comuns no futebol, é que a Codemasters jogou com o regulamento debaixo do braço e não quis mexer em time que estava ganhando.

Essa falta de inovações é algo a ser criticado, mas também é preciso ponderar sobre alguns aspectos. O principal deles é: o quanto a Fórmula 1 mudou nos últimos anos? Tirando pilotos trocando de equipes e pequenas adequações de regulamento, não houve muitas novidades e o game oficial da categoria acaba sendo atingido, por tabela, por essa monotonia.

Por outro lado, a Codemasters poderia ter ousado um pouco mais, ao menos no que diz respeito aos modos de jogo. Por que não recriar passagens clássicas do esporte (há uma modalidade de eventos semanais, mas ela é um tanto limitada)? Ou ainda ter uma versão mais cinematográfica do modo carreira, aos moldes do que a série "FIFA" fez com o modo "Jornada"?

São pequenas ideias que agregariam mais valor ao game. Mesmo com "F1 2018" fazendo jus ao alto nível da franquia e sendo, no final das contas, um game bom de se jogar, a falta de novidades mais sensíveis ofusca parte do seu brilho e deixa os jogadores com a incômoda sensação de que já viram tudo isso antes.

Nota 8