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Três anos atrás, "Destiny" perdeu seu primeiro grande (e inesperado) evento

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Imagem: Divulgação

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

25/09/2017 13h05

Os guardiões veteranos se lembram como era parar e atirar na Loot Cave

Em 25 de setembro de 2014, a Bungie lançou uma atualização para "Destiny" que corrigia 'bugs' em uma pequena caverna do Cosmódromo. Era o fim da "Loot Cave", ponto de encontro que foi, de forma inesperada, o primeiro grande evento público e o marco inicial da comunidade que se formou ao redor do game.

Na época, "Destiny" ainda estava vivendo seus primeiros dias e era um game de tiro um tanto incompleto, mas que despertava a curiosidade dos jogadores com a mistura de tiroteio de alta qualidade, ficção científica e elementos de RPG online, ainda que decepcionasse pela história rasa e pelo sistema de recompensas frustrante e desbalanceado.

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Para você ter uma ideia: era possível que ao decifrar um Engrama azul ou roxo, que correspondiam a itens mais poderosos, o jogador recebesse um item verde, um dos mais simples do jogo. E, para ser sincero, naquela época era raro que um Engrama decente aparecesse ao derrubar um dos chefes dos Assaltos, as missões mais desafiadoras de "Destiny" antes da chegada da raide "Câmara de Cristal".

Na verdade, a chance de um Engrama roxo surgir era igual para todos os inimigos abatidos. Ou seja, a probabilidade de ganhar um item mais poderoso era maior ao abater vários oponentes um após o outro do que passar muito tempo lutando contra o mesmo chefão.

Caverna do Tesouro

Assim, quando vídeos começaram a circular na internet mostrando que havia uma pequena caverna no Cosmódromo, o primeiro estágio do game, de onde brotavam dezenas de inimigos em intervalos muito curtos de tempo - e deixando Engramas de todas as cores no interior da caverna - não demorou para os jogadores levarem seus Guardiões até o local, apontarem e atirarem em qualquer criatura que aparecesse na entrada da "Loot Cave" ("caverna do saque" ou "caverna do tesouro", em português).

Loot Cave - Reprodução - Reprodução
Mesmo com poucas ferramentas, os jogadores se organizavam e passavam horas atirando na entrada da caverna para ganhar equipamentos cada vez melhores.
Imagem: Reprodução

Quem chegava na área em frente à caverna precisava seguir algumas regras básicas. Havia uma distância certa para ficar e esperar pela aparição dos monstros, Escravos e Acólitos da Colméia e era proibido ficar dentro da gruta, pois, sempre que os Guardiões entravam lá, o ciclo de ressurgimento era interrompido. O ideal era detonar várias ondas de inimigos antes de correr e recolher o 'loot'.

Não havia um bate-papo por proximidade para avisar os recém-chegados, então o jeito era sinalizar com os poucos emotes disponíveis, dar uns disparos para marcar posições... assim como em "Jurassic Park", na entrada da Loot Cave a natureza encontrava um jeito e todo mundo se entendia. Assim que você pegava as manhas, logo estava ensinando o próximo Guardião que aparecia.

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Ondas de terror e o fim

Claro, a Bungie percebeu a atividade estranha dos Guardiões e, enquanto não resolvia o problema com o sistema de recompensas do game, tentou dissuadir os jogadores da bizarra atividade que consistia em ficar parado atirando em uma caverna.

Primeiro, vieram as ondas de terror: enquanto todos os jogadores miravam e apontavam para a boca da caverna, naves da Colméia e dos Decaídos surgiam nos céus do Cosmódromo e delas desembarcavam grupos de inimigos liderados por Servidores, Walkers, Cavaleiros e Feiticeiras bem mais poderosos do que o normal para aquela área do jogo, defenestrando os Guardiões desatentos em poucos segundos e espalhando o caos na entrada da Loot Cave.

Loot Cave - onda de terror - Reprodução - Reprodução
Naves dos Decaídos descarregavam Andarilhos e tropas pesadas para massacrar os Guardiões distraídos pelos tesouros da caverna.
Imagem: Reprodução

Não demorou muito para os jogadores entrarem na brincadeira e entre uma rajada e outra no interior da caverna, sempre tinha alguém de olho na aproximação dos oponentes mais poderosos. A batalha que rolava em seguida envolvia muita gente e inimigos de vários tipos, de uma forma muito mais contagiante do que os Assaltos para três jogadores ou as repetitivas patrulhas de "Destiny".

A brincadeira, infelizmente, chegou ao fim três anos atrás, em 25 de setembro de 2014, com a atualização Hotfix 5. Segundo a Bungie, as mudanças foram feitas para "diminuir a eficiência de uma série de trapaças sobre a economia do jogo".

O Hotfix 5 alterou a chance de Engramas raros surgirem ao morrer várias vezes para o mesmo chefe (quem nunca?) e alterou o tempo de ressurgimento dos monstros em várias cavernas no Cosmódromo, entre elas, claro, a Loot Cave.

"A Colméia da sagrada 'Caverna do Tesouro' percebeu a futilidade de seus infinitos assaltos no Observatório Celeste e se retirou para lamber as feridas e planejar os próximos ataques", diz a nota dos desenvolvedores sobre a atualização.

O legado da "Loot Cave"

Após a atualização, a caverna nunca mais foi a mesma: sem monstros infinitos e tesouros para coletar, os Guardiões partiram em busca de outras aventuras no Cosmódromo, na Lua, Marte e Vênus - e a Bungie ajudou, acrescentando novos conteúdos e atividades ao longo dos meses e anos seguintes.

Mas quem passa pela famigerada caverna no Cosmódromo encontra, até hoje, uma pilha de restos um tanto suspeita, e ao interagir com esses detritos, recebe a seguinte mensagem, sussurrada por várias vozes fantasmagóricas ao mesmo tempo: "Um milhão de mortes não são o bastante para Mestre Rahool".

Rahool é o infame criptoarca da Torre de "Destiny", o responsável por decifrar os engramas coletados pelos Guardiões. Por que os soldados da Colméia o chamam de "Mestre" é um dos mistérios que o jogo nunca soube explicar.

Loot Cave - restos - Reprodução - Reprodução
Perturbar os restos dos acólitos da Colméia faz com que vozes fantasmagóricas murmurem uma mensagem sobre os tempos da "Loot Cave".
Imagem: Reprodução

A Bungie nunca negou o impacto da Loot Cave entre os jogadores de "Destiny" e reconhece a importância do "evento" nos primórdios da comunidade do game. Como uma piada, a caverna foi citada em uma apresentação da produtora durante a E3, como a principal atividade dos jogadores durante o primeiro ano do jogo.

Com o passar dos meses e anos, a cada nova expansão e Natal - ocasiões em que "Destiny" recebia suas maiores levas de novos jogadores -  era sempre divertido para os veteranos ver os Guardiões recém-chegados parando em frente à caverna e dando alguns tiros... ou comentando sobre a mensagem misteriosa que encontraram em seu interior.

Assista ao trailer de lançamento de "Destiny 2"

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Ainda não foi descoberta uma Loot Cave no recém-lançado "Destiny 2", mas muitos de seus eventos públicos e confrontos entre Decaídos, Cabal e Guardiões nas ruas da Zona Morta Européia carregam uma certa influência daquelas tardes atirando na entrada da caverna, três anos atrás.