Topo

Herói era a 'Contigo dos moleques', mas grande parte dos fãs eram meninas

Considerada a fã nº 1 da Herói, Sofia foi entrevistada na centésima edição da revista que falava de quadrinhos, animes e séries nos anos 1990 - Pablo Raphael/UOL
Considerada a fã nº 1 da Herói, Sofia foi entrevistada na centésima edição da revista que falava de quadrinhos, animes e séries nos anos 1990 Imagem: Pablo Raphael/UOL

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

03/03/2016 15h56

Lançada em 1994, a revista Herói marcou uma geração de fãs de quadrinhos, animes e séries de TV. Em uma época onde a internet era um sonho distante, era nas bancas de revista que os nerds encontravam informações sobre os desenhos e gibis. Para o criador da revista, André Forastieri, a Herói era a 'Contigo dos moleques'. Curiosamente, grande parte dos fãs eram meninas.

"Dizíamos na redação que a Herói era a Contigo dos moleques", explicou Forastieri ao UOL Jogos. "Os animes se prestavam muito para isso, porque são sequenciados como novelas. O anime é uma novela!". A revista fez muito sucesso comentando episódios de animes populares como "Cavaleiros do Zodíaco" antes que passassem na televisão brasileira, bem ao estilo do que fazem as revistas de novela, como Contigo e Tititi.

"Mas desde as primeiras edições percebemos que a Herói tinha muitas leitoras", revelou o editor. A revista recebia muitas cartas e ao separar e ler tudo o que chegava, a redação notou que uma boa parte era escritas por meninas. Entre elas, se destaca Sofia Sterzi, considerada a "fã nº 1" da Herói. Leitora desde a primeira edição, Sofia escreveu mais de 80 cartas para a Herói e chegou a participar da centésima edição da revista.

"Eu tinha 11 anos quando comecei a ler a revista, eu assistia a 'Cavaleiros' e me apaixonei pela Herói", conta Sofia, que hoje é designer e diretora de arte com passagem em diversas revistas. "Eu escrevi muitas cartas para eles, comentando o que saia na revista a cada semana. Eu lembro de ter escrito umas 80 cartas, mas foram mais, quase 100".

Embora animes e quadrinhos de super-heróis fossem considerados passatempos para meninos no começo dos anos 1990, Sofia diz nunca ter tido problemas por gostar disso. "Nem me passava pela cabeça". A fã número 1 da Herói acredita que a revista influenciou até mesmo sua escolha de carreira.

Cavaleiros antes da TV

Para conseguir os episódios de "Cavaleiros do Zodíaco" antes que chegassem à televisão no Brasil, a Herói recorreu a canais no Japão, mas, no começo, a equipe da revista se virava com fornecedores de VHS na Liberdade, bairro oriental de São Paulo. "O Marcelo DelGreco conhecia os canais na Liberdade para conseguir os vídeos com os episódios", lembrou Forastieri. "Aí tinha alguns de nós que falavam japonês, eu tentava, era uma zona. Conseguir as imagens era quase impossível, recortávamos de revistas japonesas".

"Era uma operação de guerra", conta o editor. "Mas com os anos dominamos a arte de conseguir esse material antes de sair na TV".

Legado da Herói

Publicado pela Tambor, o livro "Herói: A história da revista que inspirou uma geração" foi lançado na noite de quarta-feira, dia 3 de março. Financiado pelo público através do site Catarse, onde arrecadou mais de R$ 44 mil, e escrito por Forastieri e Arianne Brogini, o livro traz entrevistas e conversas com diversos jornalistas que passaram pela Herói, como Pablo Miyazawa (IGN), Roberto Sadovski (UOL) e Odair Braz Jr (R7).

Feito para os fãs, o livro traz também a cronologia completa com todas as edições da revista e serve como um retrato das mudanças na cultura nerd no Brasil da década de 1990.

"A Herói influenciou uma geração que gostava de desenhos, de gibis e de animes", reflete Forastieri. "Quando eu era mais novo, tinha uma idade em que você precisava parar de ler histórias em quadrinhos, era considerado coisa de criança, pegava mal um cara adulto gostar disso. Nós conseguimos mudar essa imagem e ajudamos muitas pessoas a não terem vergonha e assumirem seus gostos nerds".